O contrário do amor*

"O contrário de bonito é feio, de rico é pobre, de preto é branco, isso aprende-se antes de entrar na escola. Se perguntares a uma criança, irás ouvir que o contrário do amor é o ódio. Estão erradas. O contrário do amor não é o ódio, é a indiferença.
O que seria preferível? Que a pessoa que amamos nos passasse a odiar, ou que lhe fossemos totalmente indiferente? Que perdesse o sono a imaginar maneiras de fazer com que fiques mal ou que dormisse a noite inteira, esquecido da nossa existência? O ódio é também uma maneira de se estar com alguém. Já a indiferença não aceita declarações ou reclamações.
Para odiar alguém, precisamos de reconhecer que esse alguém existe e que nos provoca sensações, por piores que sejam. Para odiar alguém, precisamos de um coração, ainda que frio, e de raciocínio, ainda que doente. Para odiar alguém gastamos energia e tempo. O ódio, se tivesse uma cor, seria o vermelho, tal como a cor do amor.
Já para sermos indiferentes a alguém, precisamos do quê? De nada. Apenas não testemunhamos a sua existência. Ela não nos exige olhos, boca, coração, cérebro, o nosso corpo ignora a sua presença, e muito menos se dá conta da sua ausência. A indiferença, se tivesse uma cor, seria cor da água, cor do ar, cor de nada.
O amor e o ódio habitam o mesmo universo, enquanto que a indiferença é um exílio no deserto."
FilipaMarques*

Sem comentários:

Enviar um comentário